Hoje minha mãe estaria fazendo 12 anos. Quem não a conheceu pode achar isso estranho, mas ela nunca falou a idade que tinha. Para quem lhe perguntasse a idade ela sempre responderia 12 anos. E se a pessoa quisesse ainda saber, ela entregava a carteira de identidade e deixava que a própria fizesse a conta, mas ela se negava a dizer.
Isso virou um folclore, assim como quando alguém pronunciava errado seu nome: Géci, com acento agudo no E. Ai de quem a chamasse de GecÍ ou algo assim.
Minha mãe era pequena, franzina. Tinha cinturinha tipo Brigitte Bardot nos anos 60, ainda que com mais idade. Tenho dificuldade em recria-la mentalmente. Nas últimas vezes que a vi, já doente, estava ainda menor. E na última, na UTI, a encontrei tão inchada e diferente que não a reconheci e pedi para que me levassem à paciente certa, não aquela que eu estava ali inerte atada a respirador, sonda e outros equipos que a mantinham conosco ainda que ela não desejasse.
Ela sempre foi estudiosa; estudiosa de tudo. Acho que este gene os quatro herdamos. Leitora ávida, melhor escritora, jornalista dedicada e muito além da época em que atuava. Pintava muito. Suas aquarelas de flores, duendes e fadas enfeitam minhas paredes e lembranças. Os pinheiros e cenas do campo, em pintura a óleo, acompanharam meu crescimento.
Hoje ela faria aniversário. Detestava esta data, mas ficava feliz em ganhar presentes e ser lembrada. Então, sem citar nada, desejo a ela, onde quer que esteja que permaneça na Luz, com seus eternos 12 anos. Que, se possível, de vez em quando, olhe pra cá e possa se orgulhar da família que criou. De nós quatro; dos netos e netas que acolheu como filhos, dos que por distância teve pouquíssimo contato e dos que não conheceu.